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Tudo fora do lugar


Um amigo perguntou, cortesmente, como eu estava.
Senti uma vontade enorme de desabafar...
Mas, como ele poderia pensar que eu estivesse demente,
Vacilei um pouco e assumi o risco.
Não me contive e me pus a falar:
Meu papagaio me aporrinha se queixando de dor de dente
O galo do vizinho que me acordava de madrugada,
Agora canta desafinado como uma galinha d’angola
Disputando sinfonia com o Sabiá da mangueira.
Até a perereca que vivia coaxando quando chovia
E fazia banquete com grilos, mariposas e muriçocas,
Está do tamanho dum sapo boi com a ração dos cães da dona Sônia.
Pior é o gato safado da Marta que, não caça mais rato ou barata.
Depois que ralhei com ele, vira e mexe o doido mija no meu sapato.
E, no meio da madrugada, o bandido saltita de propósito
Na frente do sensor de alarme da garagem pra que ele dispare
Só pra me acordar e, quando olho pela câmera, ele está lá balançando o rabo,
Parece a Anita no carnaval de Olinda.
Não, não tô bem.
Como poderia estar se tudo parece fora do lugar?
Fora isso, só o Diazepam que parei de tomar.

A dança do Guará com o bicho Preguiça (Deury Farias)



Escute a poesia recitada por Deury Farias


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A dança do Guará com o bicho Preguiça

O fogo se foi, restaram nuvens de muita fumaça.
Num galho mais alto, vermelho, só o Guará.
Verde era o campo, agora tão negro!

Num tronco enterrado, aos poucos desponta,
Com olhos molhados, o Bicho Preguiça.

Os dois desgarrados, no resto de brasa.
Guará, exultante, não canta nem pia.
O Bicho Preguiça, em sincronia, nem assobia.

Guará convida o Bicho Preguiça, “pruma” rápida dança.
Os dois se entrelaçam, sobreviventes daquela triste agonia.

O vento se envolve e orquestra o ritmo da festa.
Toca rock, funk de rua, batuque, marabaixo.

O fogo se alastra na brasa que resta
Os dois agarrados não saem do primeiro passo

Cai por terra a esperança e tudo se acaba.

A dança do Guará com o Bicho Preguiça
Quão interessante neste instante seria?!

O vento muda o ritmo com todo afã
E inicia a segunda sonata de Chopin

Striptease (Cid Moreira)

 

Escute a poesia recitada por Cid Moreira


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Striptease

(Música livre, cochichos, vinhetas,
Risos, drinques, cervejas...)

No palco aberto,
Despindo-se silenciosamente,
Entre sombras e raios de luz: Ela!
Intrepidamente nua!
Sensualmente bela!

Estonteante aos que a veem.
Vulgar, aos sexistas que a ignoram.

Murmúrios, clics, “flashes”...
Não a intimidam no suave

E sereno “striptease”.

E cada vez mais nua,
Mais linda, mais pura.

Um ao longe se encanta.
Outro a desdenha.
Aquele outro ainda se levanta,
Fotografa e se apaixona.

O bêbado desatento pergunta:
- Quem é? Quem é?
.
.
.
.
.
.
- É lua cheia emergindo suavemente do Amazonas.

Quenguinha, a flor da sarjeta (Adaury Farias)

 

Escute a poesia recitada por Adaury Farias



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Quenguinha, a flor da sarjeta 

Brota na praça, no pé da mangueira,
Na sarjeta da avenida, na rua inteira,
Junto à Vassourinha e ao Quebra-Pedra,
Em meio à moita de Jurubeba...
Flor Albina, ninguém carrega.

No asfalto quente, no pé do poste...
Em cima do cimento da calçada...
A flor amarela surge sempre forte
E majestosa pra começar outra jornada.

Damiana dá em toda parte, por todo lado.
No sol, embaixo da rede elétrica,
Atrás do muro ou da cerca da casa...
Em todo canto. Que plantinha danada!

Flor-do-Guarujá, simples e bela.
Cedo se abre, cintilando a luz.
Por volta de uma da tarde se fecha
Escondendo a flor que tanto seduz.

Encorpada e viçosa, frente à parede nua,
Chanana exuberante se destaca!
As flores e folhas colorem a cinzenta rua
Carregada de fumaça, com seu amarelo laca.

O gari acha um simples mato e nem se toca,
Num golpe curto e certeiro da enxada
Lá se vai a moita inteira de Turnera
Junto aos cacos e poeira da calçada.

Chanana ou Turnera ou Damiana ou Albina...
Serve-se no chá, na salada ou na cozinha.

Entre tantos nomes o que mais instiga
Nessa plantinha, rica, danada e saidinha,
Não é por que dá pertinho da urtiga,
É que também é chamada de Quenguinha!

Sombra e água fresca (Adaury Farias)

 

Escute a poesia recitada por Adaury Farias



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Sombra e água fresca 

Sabiá-Laranjeira, qual bem que te quis?
Deixaste a cidade, pra onde tu foste rapaz?

Fui pras virgens matas de encantos sutis.
Lá tem fruta à vontade e eu canto demais.
Tem amores “calientes”, assim vivo feliz!
Lá eu danço, eu canto, eu bebo, de tudo se faz!

Não tem barulho de moto,
Nem tem cachorro latindo!
Ninguém pedindo meu voto,
Só natureza florindo.

Lá, tem tudo que tanto mereço.
Daqui, nem saudade me trás!
Só quero descanso e muito sossego,
Sombra, água fresca e um pouco de paz.

Dois mundos (Osvaldo Simões)

 


Assista ao clipe da poesia recitada por Osvaldo Simões

Dois Mundos

Em um só mundo, duas verdades distintas, 
- Uma que esbanja, se exibe e posa de boa pinta. 
- Outra que sofre, murmura e carrega o peso do mundo.

É delírio e horror tanta ilusão sob o mesmo céu.
- É delírio porque no fundo tudo é esplêndido e lindo.
- É horror porque estamos todos no mesmo bordel.

Apenas uma coisa será real:
Todos teremos o mesmo final.

Pé-de-moleque (Deury Farias)

 


Escute a poesia recitada por Deury Farias



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Pé-de-moleque 

No chão limpinho do terreiro,
Balões e bandeirinhas de papel.
Dança de roda e roda que roda.
Cavalheiros dançando, tirando o chapéu.

Cantigas brejeiras. Um grito que diz:
“Olha pamonha! Olha canjica!”
O vento espalha calor e fumaça,
Fagulhas de estrelinhas pelo céu!

Guizos de alegria se misturam
Com estrondos de festim.
Saias rodadas ensaiam:
“A lavadeira faz assim, assim, assim...”

Calças velhas remendadas...
“Passa-passa gavião, todo mundo passa...”

Aluá de abacaxi, quentão,
Fogos de artifícios de montão!

Passa fogueira de mãos dadas.

Santo Antônio disse, São Pedro confirmou
Que você vai ser minha namorada
Que São João mandou.

Corrida no saco. Vinte e um.
Quebra-pote. Pau-de-sebo...
Prende todos na cela dos desejos!
Paga prenda, rouba beijo, põe todos na prisão.

Corpo quente, agitado,
Passa em frente, passa bastão.
Estalinho corre solto pelo chão,
Pega no pé, pé-de-moleque.
Pula fogueira, corre e grita...

Mundo encantado é festa de São João.

Catarina (Adaury Farias)

 

Escute a poesia recitada por Adaury Farias



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Catarina 

Passo displicente, um tanto insinuante.
Caminhar envolvente... aquela saia curta e plissada...
Num balanço faceiro e cheio de charme.
Cabelos compridos na cor dos raios do entardecer,
Iluminavam, qual um refletor, aquele corpo escultural.

Pele sedosa num tom de canela.
Sinuosamente desenhada, simplesmente linda.
Caminhava num gingado.... afrodisíaco!
Olhar conspirador, misterioso até.
Que alterava o raciocínio e o batimento cardíaco.

Do outro lado da rua um pretinho atrevido
Pulava e se escondia e dizia: Psiu! Psiu!

Um sorriso de Monalisa se desenhava
Naquele rosto, naquele corpo esguio.
Escultural e majestoso e sexy e sensual.

Pertinho das seis, o olhar sombreava a esquina.
Era ela que vinha destilando o doce e suave veneno,
Num passo cadente cheio de graça na mesma rotina.
E o pretinho atrevido do outro lado da rua,
Sempre pulava e se escondia e dizia: Psiu! Psiu!

Todas as tardes, ali espreitava aquela presença.
Tantas fantasias, mas nenhuma eloquência.

Depois de longa odisseia platônica,
Uma onda de bravura em mim se instalou.
É hoje! De hoje não passa! Agora eu vou!

Não sei se por encanto ou maledicência,
Catarina, era o nome dela, nessa tarde não veio!
E o pretinho atrevido, que ficava do outro lado da rua,
Também sumiu. Ali por perto nunca mais ninguém viu.

Puxa! ... Eu devia ter feito aquele psiu!

Mangalarga e a ponte que vai do nada pra lugar nenhum (Leury Farias)

 

Escute a poesia recitada por Leury Farias


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Mangalarga e a ponte que vai 
do nada pra lugar nenhum 

Sob sol ou inverno de muita chuva
Em trôpego trote, breca o cavalo
Na cabeceira da ponte do Rio das Malas.

Mata-burro, feito de massaranduba.
Olhar arredio. Olha prum lado, olha pro outro,
Circunda em rápidos passos pelo lado da ponte.
A estrada é firme e muito segura!

O silte arenoso dá a pista
que por ali nunca houve argila.
Cabeça erguida e todo orgulhoso,
O puro-sangue, a galope, segue adiante.

Sobre a ponte, nem carro, nem gato passa!
Sob ela, nem rio ou riacho, igarapé ou vala!
Pra que a ponte, estiva ou pinguela?

A ponte do Rio das Malas com mata-burro,
Engana burro, mas não cavalo Mangalarga.

Machado não racha mais lenha de labareda (Eury Farias)

 

Escute a poesia recitada por Eury Farias


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Machado não racha mais lenha de labareda

Cepas rachadas pelo fio do machado
Empilham o pequeno abrigo de palha.
Fogão a lenha, ferro a brasa,
Acesos na cozinha e na sala.

Um aquecia a vida, outro o paletó e a saia.
Fogo e brasa. Exultantes. Cheios de graça!

Deles, a mata não sentiu nenhuma falta.
Espalhavam o brilho, a alegria e a vida,
Com forte calor e doce cheiro de fumaça.

Ferro elétrico, micro-ondas, gás butano...
Reduziram o tempo do abano ao fogo e à brasa.
Correntes de motosserras agora cortam os troncos.
Em toras se vão, trocando o verde por espaços em branco.

Machado não racha mais lenha de labareda
Com a higidez de sua lâmina mutante,
Corta a alma que vê a mata exuberante,
Mofina de fadiga, tornar-se mórbida vereda.


Linda Madalena (Walmar Jucá)

 

Escute a poesia recitada por Walmar Jucá


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Linda Madalena

Linda Madalena, o que fizeste com meu peito
Não se faz com mais ninguém.
Partiste sem sequer um adeus ou até logo.
Dilaceraste, trucidaste um coração,
Que ferido, abandonado, pôs na mala toda tristeza.
Que depois se abriu pra alegria de outro alguém.

E agora, Madalena? Não tem terço, não tem choro.
Nem promessa, remorso, pena ou vela.
Estou esperto, estou aberto, já não vivo de novela.

E agora Madalena, és apenas uma esquina!
Uma bolsa, um tostão. Uma bunda de fora na escuridão.

Linda Madalena... fostes lírio,
Fostes orquídea, rosa, laço de amor ...
Encanto, poesia, sortilégios da paixão, fantasia e emoção.

Madalena... Tão linda que tu eras!
Que pena! Essa imagem não esqueço e nem renego.
Resta-te agora o desalento de somente seres

Seca e insossa tiririca-do-brejo.

Última viagem no último vagão para a Serra do Navio (Paulo Bezerra)

Escute a poesia recitada por Paulo Bezerra


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Última viagem no último vagão 
para a Serra do Navio

( Piuiiiii ... Piuiiiii ... Piuiiiii ...)

Lá vem o comboio!

Vem depressa, vem no trampo e vem que vem.
Vagões carregados com carga pesada!
Toneladas e mais toneladas!
Bem pesadas? Mal pesadas? São levadas!

O dique de alto calado de fundo barrento.
Esteira rolante não para um só momento,
Embarca negras lágrimas de uma terra valente
Ficando lá atrás uma serra um tanto demente.

Lá vai o comboio...

( Piuiiiii ... Piuiiiii ... Piuiiiii ...)

Deixando um corte no seio da mata.
O zunido do aço das rodas nos trilhos
Ecoa distante num canto do mapa.

O porto afogado, agora agoniza.
O trilho de ferro, em feixe amarrado, vira brisa.
Um caso obscuro, um fato obsceno.
Sem bilhetes, sem embarque ou desembarque.

Na mão o aceno, no olhar um horizonte vazio.
Perdeu, playboy! Não resta bagagem! Foi tudo a reboque.
Na última viagem, no último vagão para a Serra do Navio.

Acasalamento dos biguás sobre a Pedra do Guindaste (Gleury Farias)

Escute a poesia recitada por Gleury Farias


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Acasalamento dos biguás sobre a Pedra do Guindaste

Olhar firme, sempre atento.
Vigilante da vida e de tudo ao redor.
Em inusitado momento, sem que se espante,
Em voo rasante, com um trinar, um tanto seco,
Sem se importar com aquele sujeito,
Uns chamam de mergulhão, outros de biguá,
O fato é que eles vêm de longe,

De muito longe, vêm além-mar.

Sentam-lhes no ombro, cagam-lhes na cabeça.
Pacífico e incólume, só observa.
E ali mesmo, um tanto fuinhas, acasalam.
Depois, em duplas, voam rumo aos aturiás.
Montam seus ninhos...

Eclode a vida!

No tempo certo retornam para o mesmo ato
Cheios de estardalhaços em ligação simbiótica.
Frenéticos, voltam com a mesma dança erótica!

Repetem contentes a prática da última parte
Com o consentimento atento do eterno Vigilante.
Completa-se assim o ciclo sobre a Pedra do Guindaste.

Enxertia de Maria-fecha-porta no pé de Jurubeba (Mary Góes)


Assista ao clipe da poesia recitada por Mary Góes
  

Enxertia de Maria-fecha-porta no pé de Jurubeba

Folhas largas e parrudas
Espinhos grandes, pontiagudos.
Frutos vermelhos de suave sabor, 
Enchem o pote com doce licor.

Baladeira? Estilingue?
Tira de lá uma forquilha!
Guardiãs do cavalo, formigas de fogo,
Defendem a planta como num jogo.

Imponentes, em posição defensiva,
Como dois baluartes, pés de bravas urtigas.
Com pelos coçantes são boas de briga.
E se livram do golpe de forma evasiva.

Um pouco distante e cheia de flores,
Mimosa, com folhas de alarme.
Maria-fecha-porta se enche de charme.
Ansiosa, nem sabe que é a bola da vez,
Do lacônico transplante de fundo transgênico.

Não há mais espaço pra duas grandezas.
Urtiga se arvora em tom de defesa:
- Ah, isso !? 
Isso é só um galho mixo, mirrado e tão peba....
Facão afiado, barbante apertado. Tá feito!
Enxertia de Maria-fecha-porta no pé de jurubeba

Pororoca (Eury Farias)


Assista ao clipe da poesia recitada por Eury Farias

Pororoca

Nem faz tanto tempo assim ...
Pirarucus, curupetés, curimatãs, tucunarés...
Saltavam, batiam n´água
Como quem diz: Tô aqui! Tô aqui!

Num urro medonho a onda se impunha:
Barrenta, gigante, violenta... 
Pororoca assombrava, desbarrancava tudo à sua frente.
Virava casa, virava casco, virava barco, virava lenda.

Há pouco, tempo nas ondas fracas... 
Garrafas pet, marmitex, caixinhas tetra pak...
Branquinhas, acarás, tralhotos, matupiris...
Pororoca mansinha, fazia onda pros surfistas e jet skis.

Hoje, barragens, “bufaladas”, matriz energética, 
Risco iminente, lucro cessante, hidrelétricas...

Pirarucus, curupetés, curimatãs, tucunarés...
Branquinhas, acarás, tralhotos e matupiris...
Se bronzeando de peito pra cima 
Na superfície fria da água barrenta,
No leito largo de baixo calado do indigente rio.  

Pororoca já meteu medo. 
Virou casco, virou festa, festival, virou lenda! 

Virou lenda...


Sumiu! 



Varal de arame e ripa (José Nazaré)

 


Assista ao clipe com a poesia recitada por José Nazaré

Varal de arame e ripa

Que ressaca! 
Cabeça pesando mais que o corpo.
E toma chá de mato! 
Erva cidreira, carqueja e até de boldo.

O sol ainda dorme. 
Ombro encostado no batente,
Olhar perdido pela ressaca ardente,

Encontra, em meio à penumbra, 
Frente ao jirau de morototó,
Aquela mulher forte, guerreira.
Sagica e que já fez a feira!
A fumaça do cachimbo, 
Com tabaco de corda, a transforma.

Cutelo afiado em golpes certeiros, 
Em pequenos pedaços divide o mocotó.
Ao lado, em cima do mocho, 
uma boa pesada de bucho com tripa.

Uma penca de filhos, que ainda dorme, 
tem de se alimentar. 
Depois, com ferro a carvão, 
tem uma ruma de roupa pra passar,
Que ainda tá ali, no sereno, 
sobre o varal de arame e ripa.

No batente, o filho devagar se movimenta,
A cena a incomoda, então ela pergunta:

 - O que tu faz aí com esse olhar de espiar pica?

A ressaca se desfaz e rapidamente ele retruca:

- Espiar pica? Isso não lhe invejo!
  E também não sei o que é isso de verdade.
  Neste momento só o que vejo, 
  É a força de sua responsabilidade! 



Indelével matiz (Leury Farias)


Assista ao clipe da poesia recitada por Leury Farias


Indelével matiz

Havia um canto alegre entre tocas e buritis.
Num galho um canário... noutro uma guariba a guinchar...
Na terra, no pé da árvore, um pequeno e lento jabuti.
Mais adiante, no igarapé, mais um destino a encontrar.

Havia mais que a simples melodia!
Havia uma espera de tocaia urdida.

Vida livre na natureza exuberante 
Cenário perfeito de seres tranquilos.
Impróprio para seres pensantes
Vindo de tão longe, tão distante ...
Caminhos tão diferentes, tão errantes ...
Busca incessante a persegui-los

Desliza a canoa entre os aguapés.
O estalo do disparo vem de lá do igarapé!

Canário muda pra outro galho qualquer.
O resto do dia nem um pio sequer.
Quedou-se a guariba por terra abatida
No ajunte, também foi o jabuti.

Na outra margem, outra linha do destino.
Imagem bizarra gravada na mente, indelével matiz,
Mudo, sem poder mudar o caminho.
Restou um silêncio absurdo entre tocas e buritis. 


Espírito de Porco (Adaury Farias)



Assista ao clipe da poesia recitada por Adaury Farias


Espírito de porco

Espírito de porco

No alto do morro, um ronco estranho.
Um espírito louco emana do vento,
Atravessa os sonhos e o frio da noite.
Sombra negra de olhar vermelho, 
Transforma o sossego em agitada misura.

Na noite escura sai a esmo e à sorte.
Assusta os namorados atrás dos postes,
Os moleques, atrás das moitas.
Nas casas humildes, virgens beatas
Se excitam com o gemido erótico.

Apavora o prefeito neurótico, ainda acordado, 
Contando dinheiro às três da manhã.
Esposas abandonadas nele se enroscam.
O assaltante se esconde atrás do sobrado.
A cidade se espanta e aos poucos se amansa.

A madrugada termina e o ronco se esvai.
No alto do morro, na passagem secreta,
Adentra a sombra pela porta da frente,
Pela porta dos fundos outra sombra se vai.

O espírito louco assombra a cidade
Das mentes ociosas na noite vazia.
Relaxado se deita ao lado da companheira 
Já satisfeita pelo outro que pelo fundo saia.
 
O espírito de porco perturba os outros,
Carrega consigo o fel da maldade.
Descansa pensando que está livre de tudo. 
Também é vítima da própria iniquidade.

Aventuras de um caboclo


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Meus Momentos Políticos


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Ecos & Logias Amapaenses


Livro de poesias e contos regionais
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Historinha que vovô contava

Esse é seu primeiro livro infantil, dedicado à Elise, sua neta, escrito para diminuir a saudade da presença física dos encantos da princesinha Elise, distanciamento decretado pela quarentena da covid-19.

Livro infantil
Essa é história de uma princesinha quando ainda
nem tinha dois anos de vida, mas já ficava atenta
a tudo e se soubesse escrever talvez fizesse assim...
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A sabedoria do galinho Golias


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Essa é uma história sobre uma lição de bom exemplo
que meu avô aprendeu com um galinho garnisé.
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Ma.ele.ta.fê-Uru


Livro infanto-juvenil
Essa é história de um bicho muito esquisito
que apareceu na minha rua numa sexta-feira treze.
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Desolina Salles Farias


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Discursos da Professora Deusolina Salles Farias
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Subjugados - Poesias recitadas



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ao leitor a opção de ouvir as poesias serem recitadas.
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