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Espírito de Porco (Adaury Farias)



Assista ao clipe da poesia recitada por Adaury Farias


Espírito de porco

Espírito de porco

No alto do morro, um ronco estranho.
Um espírito louco emana do vento,
Atravessa os sonhos e o frio da noite.
Sombra negra de olhar vermelho, 
Transforma o sossego em agitada misura.

Na noite escura sai a esmo e à sorte.
Assusta os namorados atrás dos postes,
Os moleques, atrás das moitas.
Nas casas humildes, virgens beatas
Se excitam com o gemido erótico.

Apavora o prefeito neurótico, ainda acordado, 
Contando dinheiro às três da manhã.
Esposas abandonadas nele se enroscam.
O assaltante se esconde atrás do sobrado.
A cidade se espanta e aos poucos se amansa.

A madrugada termina e o ronco se esvai.
No alto do morro, na passagem secreta,
Adentra a sombra pela porta da frente,
Pela porta dos fundos outra sombra se vai.

O espírito louco assombra a cidade
Das mentes ociosas na noite vazia.
Relaxado se deita ao lado da companheira 
Já satisfeita pelo outro que pelo fundo saia.
 
O espírito de porco perturba os outros,
Carrega consigo o fel da maldade.
Descansa pensando que está livre de tudo. 
Também é vítima da própria iniquidade.

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