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Desafio entre o Sabiá na mangueira e
o Bem-te-vi na rede de baixa tensão
Desafio entre o Sabiá na mangueira e
o Bem-te-vi na rede de baixa tensão
Cinco e meia da manhã!
Na copa da frondosa mangueira,
Sabiá Laranjeira ainda meio rouco
Afina o canto acordando a todos.
O Bem-te-vi, já desperto, em voo rasante,
Pousa agitado no cabo da baixa tensão.
Olhar muito atento e todo elegante,
Com bico graúdo empinado pra cima,
Dispara seu canto suave na rima:
— “Bem-te-vi”! “Bem-te-vi”!
Sabiá Laranjeira, não fica em silêncio,
Rebate fugaz num tom bem macio:
— “Comecei primeiro e não saio daqui”!
Começa a peleja, instinto sagrado.
É manga caindo, é carro passando...
Os cantos sonoros velando o sono,
Em som orquestrado, o sonho profundo.
O Sol se levanta, já são sete e meia!
No ar, notícias de morte, de medo, de dor.
Políticos bandidos que causam terror.
Doidos, corruptos, perigosos malacos.
Todos juntos, farinhas do mesmo saco.
O desafio entre o Sabiá Laranjeira
e o Bem-te-vi amarelo é só emoção!
Um, no alto do galho da grande mangueira;
outro, no cabo elétrico da baixa tensão,
Entre folhas e frutos,
Prosseguem o duelo alegre e feliz.
Buzinas, barulhos de carros, de motos
Não mudam a rotina dos fatos.
Ao largo, o canto sutil das pipiras e suís.
Recomeça a peleja com indelével certeza
Que, ao alvorecer de cada novo dia,
Manterão vivo o mistério da mãe natureza,
Cantando outra vez com infinita alegria.