Páginas

Última viagem no último vagão para a Serra do Navio (Paulo Bezerra)

Escute a poesia recitada por Paulo Bezerra


______________________________________________
Última viagem no último vagão 
para a Serra do Navio

( Piuiiiii ... Piuiiiii ... Piuiiiii ...)

Lá vem o comboio!

Vem depressa, vem no trampo e vem que vem.
Vagões carregados com carga pesada!
Toneladas e mais toneladas!
Bem pesadas? Mal pesadas? São levadas!

O dique de alto calado de fundo barrento.
Esteira rolante não para um só momento,
Embarca negras lágrimas de uma terra valente
Ficando lá atrás uma serra um tanto demente.

Lá vai o comboio...

( Piuiiiii ... Piuiiiii ... Piuiiiii ...)

Deixando um corte no seio da mata.
O zunido do aço das rodas nos trilhos
Ecoa distante num canto do mapa.

O porto afogado, agora agoniza.
O trilho de ferro, em feixe amarrado, vira brisa.
Um caso obscuro, um fato obsceno.
Sem bilhetes, sem embarque ou desembarque.

Na mão o aceno, no olhar um horizonte vazio.
Perdeu, playboy! Não resta bagagem! Foi tudo a reboque.
Na última viagem, no último vagão para a Serra do Navio.

Nenhum comentário:

Postar um comentário