Nasci prematuramente devido a conflitos políticos, vividos por meus pais, e essa coisa nunca me contaminou, além disso, trocar voto por algum tipo de favor ou dinheiro, sou completamente avesso a isso!
Sempre
fui técnico e, como arquiteto, construí muitas obras por aí.
Há
alguns anos, no período de campanha política, meus dois irmãos, que foram
contaminados pelo vírus da política, estavam candidatos a deputados estaduais.
Eis,
que, no prédio em que moro, escritório no térreo e meu apartamento no pavimento
superior, lá pelas 8h da noite, assistindo ao JN, ouvimos o som insistente da
campainha.
É
alguém pedindo ajuda pra votar em um dos meus irmãos candidatos, quer apostar?
Então
minha esposa se levanta do sofá e, da sacada do apartamento, olha pra ver quem
perturbava naquele horário.
Lá
em embaixo, uma mulher com uns 26 anos de idade com uma criança no colo, que
aparentava ter uns seis meses, fala bem alto pra ela:
—
Quero falar com o Adaury!
Sem
esboçar reação alguma, porém com o rosto transfigurado com aquela cena, minha
esposa ouve o apelo, entra na sala e fala pra mim:
—
Tem uma mulher com uma criança no colo aí em baixo que quer falar contigo!
Na
verdade, eu já tinha escutado a voz aguda e cirúrgica da mulher e, confesso,
senti um friozinho na barriga e parti pra defensiva e fui logo dizendo:
—
Essa mulher é doida!? Quem será? O que será que ela quer? Só pode ser doida!
Quando
já me levantava para atendê-la, ouvi, novamente, a mulher gritar lá embaixo:
—
Quero falar com o Adaury! Chame ele pra mim!
Pense
num turbilhão. Assim estava meus pensamentos.
Fui
descendo a escada devagarinho pensando numa saída de um beco em que nunca havia
entrado.
Quando
cheguei no patamar da escada, olhei a figura na frente das barras de ferro do
portão, com o bebê nos braços, pensei que eu poderia estar na situação
contrária, ou seja, atras das grades.
Mas,
também confesso era um mulherão!
—
Boa noite, senhora. Murmurei com uma voz quase inaudível, esperando que a
reação dela fosse dizer: Toma que o filho é teu!
Então
ela falou num tom mais suave:
—
Tu que é o Adaury?
—
Sim, sou eu! Respondi em tom firme, porém não tanto amedrontado.
—
Aquela obra ali na rua das Bananeiras é tua?
—
Sim, algum problema?
—
Eu queria que tu me desse aquela madeira que tá lá na frente, pra eu arrumar
meu barraco.
Nem
pestanejei e tampouco perguntei onde ela morava.
—
Claro, é toda sua. Amanhã mandarei o mestre de obras deixar lá pra você.
Ainda
bem que minha mulher, lá na sacada, viu e escutou toda a conversa, caso
contrário, como eu iria explicar todo aquele modo imperativo da dona do
barraco? Isso poderia ter sido o indicativo de um divórcio.
Mas
não erramos no comentário, foi um pedido de compra de voto!
O
mestre de obras, depois me falou que viu, na parede da casa dela, cartazes com
retratos dos dois irmãos. Um do lado do outro.
Paguei
pelo susto.
Nenhum comentário:
Postar um comentário