Páginas

Curta caminhada (Adaury Farias)

 

Assista ao clipe com a poesia recitada por Adaury Farias


Curta caminhada

Lá pelos meus dez anos de idade, turrão à beça,
Ai do colega que me apelidasse!
Partia pra luta, era tapa, chute e palavrão.
A briga durava até que alguém nos separasse. 
Puto da vida corria pra longe e ficava com cara de mal. 
Depois, na bola de rua, tudo voltava ao normal.

Lá pelos vinte, eu era dono do mundo. 
O iluminado. Eu era o escolhido! 
Eu sabia de tudo! O resto? Era só pano de fundo.
Segui assim, achando que havia crescido.

Aos trancos consegui chegar aos quarenta. 
O tempo passou como um corisco petulante
Que nem vi minha largura ficar tão grande. 
No mais, tudo igual ao que era antes.

Agora, aos sessenta, devia ser resiliente,
Deixar tudo por menos, ser menos valente,
Me passar por trouxa e até fazer cara de palhaço.
Mas não aguento atitudes que me enchem o saco. 
Foda-se! Não é agora que vou levar desaforo pra casa.
A caminhada foi longa e ainda não estou fraco.
Falou merda, chuto logo o pau da barraca.

Quando, ou se, chegar aos oitenta, sem Alzheimer, 
Vou continuar contando sempre que puder, 
Sem falsa modéstia, remorso ou culpa guardada,
Que valeu cada sorriso, cada abraço
E cada porrada nessa curta caminhada.



Nenhum comentário:

Postar um comentário